Há mais de 35 anos a Travessa Laurinda sofre com o descaso da prefeitura

Foto: Matheus Guimarães
Foto: Matheus Guimarães
Foto: Matheus Guimarães

Moradores passam dias sem luz, esgoto corre a céu aberto, há buracos pelo caminho

Esgoto a céu aberto, buracos pelo caminho, falta de luz frequente, vegetação alta com cobras e outros animais são alguns dos problemas que enfrentam as dezenas de  residentes da Travessa Laurinda, que fica na localidade Central no Complexo do Alemão. Há mais de 35 anos, o local é esquecido pelo poder público e quem mais sofre são os idosos, crianças e pessoas com deficiência. Durante todo esse tempo, diversas promessas de melhoria foram feitas pela prefeitura, mas até hoje os moradores lutam por direitos básicos.

Foto: Matheus Guimarães

Sem o direito de Ir e Vir
Ir trabalhar, estudar ou passear tem sido um sacrifício para quem reside na região. Vários moradores já cairam e se machucaram ao passar pelo caminho. Sem iluminação adequada, pavimentação, com esgoto correndo a céu aberto e animais peçonhentos, os moradores evitam a travessia à noite e em dias de chuva. Mas, esse retrato ainda é pior para Yasmin, que tem desvio na coluna, a estudante de 20 anos só consegue passar na Travessa Laurinda com a ajuda da mãe, Angélica.
A jovem, em entrevista ao Voz,  disse que a primeira vez que chegou ao local teve medo e que costuma sair só para ir ao colégio. “Já fiquei mais de uma semana sem ir à escola, por causa da chuva. Eu desejo um caminho sem buracos, com uma escada adequada, sem esgoto e vegetação alta, para que eu, meu irmão e  mãe possamos passar sem risco de cair.” – disse Yasmin.

Angélica passando pela Travessa Laurinda. Foto: Matheus Guimarães

Teste 3

Angélica, que tem 35 anos e é auxiliar de creche,  lembra que já foram tantas promessas de obras não concretizadas que agora não consegue mais acreditar nas notas da prefeitura. “Palavras para mim e nada são a mesma coisa, o superintendente falou em fevereiro que em junho, deste ano ele me daria uma resposta, mas até agora, em setembro nada foi feito, a única esperança que eu tenho é em Deus.” 

Os Perigos causados pelo abandono
A exposição à água contaminada pode causar doenças graves como Leptospirose, Disenteria Bacteriana, Febre Tifóide, Cólera, entre outras. Por isso, quem atravessa a localidade precisa tomar cuidado com o esgoto que corre sem canalização e pode entrar em contato com a pele nos dias de chuva. Além disso, há risco de queda, já que a escada e o caminho têm buracos. A fim de melhorar a situação, em 2015, o Instituto Raízes em Movimento em parceria com a  Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e moradores instalaram na escada um corrimão, para dar mais segurança a quem passa pelo lugar. 

Angélica lembra que a deficiência no saneamento básico afeta também a casa dos vizinhos, mais do que só as escadas. “Toda tubulação está danificada, tem esgoto sem tampa, alguns com tampa quebrada.”

Descaso do Poder Público
Segundo moradores, a luta por um caminho digno na Travessa Laurinda já dura cerca de 35 anos e os órgãos públicos, durante esse tempo fizeram várias promessas. Em 2009, as obras de revitalização do PAC, que usaram mais de 400 bilhões de reais dos cofres públicos, deveriam ter começado no local, no entanto, 10 anos depois nada foi feito. A resiliência de quem mora na Travessa, que fica próxima da associação de moradores, vem sendo testada, mas Angélica, moradora há mais de 2 anos, insiste em cobrar das autoridades as obras necessárias à segurança. 

O Superintendente da Grande Inhaúma e Complexo do Alemão, Romildo Juca quando questionado sobre prazos afirmou: “A superintendência recentemente andou todo o Complexo do Alemão colocando demandas como essa no 1746, que é a central da prefeitura de atendimento ao cidadão e algumas manutenções foram feitas prontamente, na Travessa e em outras regiões, tal qual trocar luzes, cortar a vegetação. Mas, quanto às obras nós fizemos o pedido e não temos como dizer quando irá acontecer oficialmente.”

Juca ainda assegurou ao jornal, que entrará em contato com o secretário de obras para saber como está a solicitação feita para a localidade. Entretanto, Angélica, quando questionada sobre as intervenções no local contou:  “A Comlurb agora, vez ou outra vem cortar a vegetação, mas a falta de luz permanece, esses dias ficamos dois dias sem luz, o caminho está pior, nada mudou nos anos em que moro aqui.” 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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