Quem passa pela Central, no Complexo do Alemão, logo se depara com um muro no qual tem um belo graffite escrito ‘Cria CPX’, e ao entrar para descobrir do que se trata logo veem que ali é um espaço no qual a arte e cultura estão disponíveis gratuitamente aos moradores da comunidade.
A ideia de levar e ensinar a arte do graffite no Complexo do Alemão surgiu de uma conversa informal dos grafiteiros e amigos Miguel Afa, Zeco e Seon. Zeco e Seon que são primos, foram alunos de Afa numa oficina de graffite que acontecia no extinto espaço da Cufa no Complexo do Alemão. “Os meninos (Zeco e Seon) foram meus alunos e hoje estão comigo levanto o graffite adiante. Num sábado estávamos juntos e a ideia surgiu, olhamos um para o outro e falamos ‘bora fazer?’ e já combinamos de começar na quarta seguinte, juntamos o que tínhamos e estamos aqui, é só um começo, a gente espera fazer muito mais”, contou Afa.
Sem fins lucrativos, o projeto que incentiva a arte e a cultura do graffite acontece toda quarta-feira das 14h às 17h, e as oficinas gratuitas vivem de doações. Segundo Zeco, a ideia é cada vez receber mais crianças, mas para isso eles precisam do apoio através de doação de materiais como lápis, folhas de ofício e tinta.
Teste 3
“O graffite começa no papel, no traço e é para todos. Alguns acham que vão chegar aqui e não vão conseguir, mas a arte é estudo e treinamento. Aqui eles aprendem o traço no papel, estudam os tipos de letras e depois disso vamos para o graffite no muro. Precisamos de todo esse material para que cada vez mais a gente atinja mais crianças e jovens da comunidade. Uma das coisas que mais temos dificuldades são com as tintas spray, que é o material mais caro”, conta ele.
Usando a arte como ponto de reflexão e união com os jovens, Seon revelou que ali eles não são mestres e alunos, são na verdade parceiros daqueles que chegam querendo saber mais sobre a arte. “Aqui não tem essa distância de professor x aluno, somos parceiros deles e há uma troca o tempo todo, ensino o que sei, Zeco ensina o que sabe, Afa também passa isso e ouvimos quem chega aqui querendo aprender, as vezes eles até abrem pra gente problemas que passam em casa e tentamos de alguma forma ajudar”, explicou.
E os alunos ficam atentos a cada ensinamento dos instrutores e entre um traço e outro, mostram grande evolução e satisfação em aprender coisas novas, em descobrir que a arte que admiram podem fazer parte do seu dia. É o caso do jovem Leandro, de 16 anos, que sonha em viver do graffite. “O legal é que aqui posso aprender e de graça, se tivesse que pagar um curso de graffite não teria dinheiro, e aqui aprendo tudo, já tem o material pra gente é muito legal. Eu quero poder ser um nome do graffite no futuro, eu desde pequeno sempre pensei em aprender”, revelou.
Quem pensa que são só as crianças e jovens que podem participar, se engana, Zeco explicou que a oficna está aberta para todos aqueles que tem a vontade de conhecer mais sobre a arte e que eles têm o cuidado de trabalhar cada um de acordo com a sua idade. “O graffite é para todos, então todos podem vir aqui aprender, aprimorar. Sempre falo que a gente não para de aprender, eu mesmo aprendo sempre um pouco com eles. Com as crianças a gente ensina de uma forma mais lúdica, dentro do mundo deles, com adolescentes e adultos, a gente pode ensinar de uma forma mais direta. Mas aqui não temos distinção de idade, quem quer aprender é só chegar”, convida ele.
Atendendo cerca de 30 jovens, o Cria CPX visa crescer cada vez mais e espera poder colocar aulas de manhã e até em mais dias da semana, além disso, eles querem levar esses alunos para expressar sua arte através do graffite pelos becos, vielas e ruas do Alemão. “O objetivo é abraçar cada vez mais alunos, e queremos ao final de cada turma fazer os graffites aqui nas ruas da comunidade, que há um tempo atrás já foi um mural de graffite à céu aberto”, disse Zeco.