Basta entrar em qualquer sala de aula das escolas brasileiras que um problema em comum é encontrado: o uso de celulares pelos jovens durante as aulas.
O uso de celulares em conjunto com outras atividades das quais eles não fazem parte ou a sua presença em momento de estudo sem que ele também seja ferramenta de aprendizagem pode, de fato, atrapalhar a aprendizagem segundo a Rede Nacional de Ciência para a Educação. Mas será que a combinação entre celular e juventude resulta apenas em prejuízos?
Segundo o Suplemento de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015, 92,1% dos domicílios brasileiros acessaram a internet por meio do celular. Mesmo que o uso da internet também ocorresse por meio do microcomputador, a taxa de domicílios que o apresentavam como ferramenta de uso para acessar a internet era menor (70,1%) do que a taxa de domicílios que alegaram usar o celular para acessar recursos online. Esses dados apontam para o grande uso dos celulares no Brasil; considerando os aparelhos de celular que, atualmente, circulam no mercado, os usos possíveis não se esgotam no acesso à internet. E ainda existem outros aspectos a serem considerados acerca do uso de celulares, como a subjetividade juvenil que ele ajuda a construir: segundo pesquisa de Sandra Rúbia Silva, de 2012, realizada na cidade de Florianópolis, o uso de celulares está associado à construção de subjetividades masculinas em camadas populares, por meio de ações como escutar música alta em espaços públicos.
Teste 3
A partir desses dados, parece claro que se a gente insistir em direcionar as nossas armas contra toda e qualquer forma de uso dos aparelhos celulares pela juventude, é briga perdida de longe. Por que não optar pelo consenso ao invés do conflito?
Para além das redes sociais, ao dar um simples click em lojas virtuais como o Google Play, em smartphones com sistema operacional Android, encontramos centenas de aplicativos que prometem cumprir desde demandas de gravação de voz, passando por jogos de soltar pipa, competições virtuais de “sarrada”, até aplicativos de organização de finanças, compromissos e metas.
Muitos desses aplicativos poderiam ser utilizados pelos jovens e todos podem ser focados em, não só, cada jovem individualmente como também (e principalmente) na formação de redes juvenis, que seria o fortalecimento da coletividade jovem por meio da tecnologia, podendo estimular os estudos e, até, possibilitar a geração de renda e/ou a otimização desse processo.
Como exemplo, segue alguns aplicativos disponíveis para Android, suas funções e possibilidades de uso:
Planejamento e organização:
Evernote
O Evernote é um aplicativo que permite ao jovem organizar toda a sua vida pessoal, educacional e profissional por meio de anotações e tarefas que são organizadas em cadernos. Cada tarefa ou nota pode ser construída não só por textos como também utilizando gravação de áudio, vinculação de foto e até escrita manual utilizando o touch screen e o dedo como caneta. Um recurso fundamental do Evernote é a sincronização com todos os aparelhos em que o jovem instalar o programa. Se ele assistir a uma aula e realizar um resumo dos tópicos vistos no dia na escola usando o aplicativo, com uma rápida conexão com a internet, tudo que foi escrito no app do celular surge no Evernote instalado em seu computador. Isso possibilita que ele possa copiar e colar seu resumo em documentos do Word e guardar em pastas em seu computador, otimizando seus estudos. Isso economiza tempo pois as anotações podem ser feitas no ônibus enquanto o jovem volta para casa, aproveitando que os conteúdos escolares estão “frescos” na memória. Além disso, deveres de casa podem ser adicionados como “tarefa” no aplicativo, com lembretes para realização.
Não só para a aprendizagem escolar pode ser usado o Evernote. O estabelecimento de metas e notas organizadas podem ser importantes para construção de micronegócios e, inclusive otimização de tarefas em empresas nas quais o jovem venha a trabalhar.
Google Keep
O Google Keep é semelhante ao Evernote, mas é mais simples no que se refere à disponibilidade de recursos. Isso pode auxiliar os jovens que tiverem dificuldades em se adaptar ao Evernote, que, de fato, apresenta tantas funcionalidades que pode acabar confundindo e saturando o usuário nos primeiros dias de uso. O interessante é que o Google Keep possibilita sincronizar as tarefas/lembretes com o Google Agenda, sobre o qual falaremos a seguir.
Google Agenda
Google Agenda é outra ferramenta do Google, a qual permite criar um verdadeiro cronograma de coisas a fazer e eventos a ir. Com visual bem intuitivo, o Google Agenda permite que o jovem possa organizar toda a sua vida pessoal, educacional e profissional de maneira a encontrar tempo para realizar as atividades importantes para a sua formação e sua geração de renda de forma que sobre tempo para lazer. Os eventos podem ser individuais e, até coletivos, indo automaticamente para o Google Agenda de todos os contatos envolvidos.
O Google possui, ainda, outras ferramentas úteis aos jovens, como o Google Docs e o Google Hangout. O Google Docs permite que textos sejam escritos e compartilhados pela internet, bastando ter uma conta de e-mail do Google (Gmail). O mais legal é a possibilidade de escrita de textos coletivos, com todos escrevendo ao mesmo tempo, cada um em seu computador ou celular. O Hangout é uma ferramenta de comunicação como o Whatsapp, mas que necessita de Gmail e que permite uma videoconferência que possibilita a transmissão da tela do computador para amigos que estejam assistindo. É possível que uma pessoa transmita vídeos ao vivo pelo computador e outras assistem e interagem via celular, por exemplo. Como é mais uma ferramenta do Google, permite sincronização com o Google Agenda: uma videoconferência pode ser planejada via Google Hangout e a data ir para o Google Agenda. No momento da videoconferência (ou um período antes, a escolha do usuário), o Google Agenda lembra o jovem da videoconferência e já permite que a ligação seja feita diretamente via Hangout na hora marcada. O Google Docs pode ser usado junto com uma videoconferência do Hangout também. Em outras palavras, as possibilidades são múltiplas.
Finanças:
GuiaBolso
Esse aplicativo permite que o jovem possa organizar as suas finanças de maneira bem fácil, já que o aplicativo consegue detectar os dados do extrato bancário, mostrando gastos no cartão de crédito e de débito. Apenas os gastos manuais precisam ser registrados; o aplicativo, além de avisar ao jovem sobre onde está gastando mais dinheiro (após separar os gastos em categorias), permite o estabelecimento de metas de gastos para que o usuário seja avisado sobre o quanto ainda pode gastar.
Minha economia
Esse aplicativo permite que o jovem possa administrar mais de uma conta bancária, registrar mobilizações financeiras de cartões de crédito separadamente, etc. sendo recomendado para pessoas que tenham gastos variáveis. As diferenças principais para o GuiaBolso é que todos os registros devem ser manuais e que o Minha Economia permite a exportação de planilhas de Excel com os dados financeiros.
Existem muitos outros aplicativos do mesmo gênero de cada um dos descritos, no Android. Por isso, para que não se gere uma instalação desvairada de aplicativos (a memória do celular agradece!), é importante que, antes de instalar qualquer um, se realize uma pesquisa rápida nos comentários de cada aplicativo no Google Play. Isso permite que possa haver uma avaliação a partir de pessoas que já usaram o programa. Em complemento, caso haja dúvida de qual aplicativo usar (ficar entre Evertone ou Keep, por exemplo, é uma dúvida comum), basta pesquisar no Google e acessar sites que fazem avaliações comparativas dos aplicativos, de maneira a analisar e concluir qual aplicativo é mais útil de acordo com as próprias necessidades. Além desses gêneros, há outras possibilidades de aplicativos, cada um com a sua utilidade, como para segurança pessoal e coletiva (cada vez mais importante nos dias de hoje). Com um click no Google, um mundo de possibilidades aparece.
Uma das formas de desigualdade pode ser a tecnológica, por conta do desconhecimento acerca da existência dos aplicativos e das formas de uso. Sendo a nossa formação para uso de tecnologia bastante frágil nos espaços escolares (tanto públicos quanto privados, com raras exceções), nos resta buscar aulas no YouTube por exemplo. Aprendi a mexer nos aplicativos citados pesquisando na internet. Com o tempo, é necessário avaliar a adaptação a cada um. Após isso, basta escolher as formas de uso.
Se a gente aceitar o desafio e fortalecer esse debate sobre uso de tecnologia nas escolas e fora delas, tenho como hipótese que o diálogo com a juventude será mais horizontal e resultará com mais soluções para problemas ligados a desigualdades (diretamente associadas a uso de tecnologia ou não) e outras questões vinculadas às próprias favelas dos jovens.