Sou de um tempo…
De um tempo…
De um tempo onde bala perdida era aquela bala que encontrávamos no bolso da calça, da blusa ou do short, não na cabeça, na perna ou no ventre de uma mãe;
De um tempo onde tínhamos medo que os bandidos subissem o morro, e não os policias;
De um tempo onde o som nas vielas e becos era do samba, rap ou funk, e não o barulho das rajadas de metralhadora;
De um tempo onde não tinha Unidade de Polícia Pacificadora, pois nossas comunidades seguiam em paz;
De um tempo onde quem vendia drogas eram os traficantes e não as autoridades;
De um tempo onde nossas vielas tinham crianças brigando, e não policiais as matando;
Sou de um tempo…
De um tempo…
De um tempo onde que o bandido tinha medo da polícia, e por isso não era sócio dela;
De um tempo onde o governador morava no Palácio das Laranjeiras, e não em Bangu I;
De um tempo onde nossas crianças iam pra escola com sede de saber, e não com medo de morrer;
Sou de um tempo…
De um tempo….
De um tempo onde a inteligência das policias era muito mais do que trocar tiros;
De um tempo onde um trabalhador era gente, e não vítima do estado;
De um tempo onde um enfermo poderia morrer no hospital, e não na fila de espera para uma simples consulta;
Sou de um tempo…
Sou de um tempo onde eu não era estatística de homicídio e nem assalto, onde eu não era ponto de encontro de bala perdida…
Sou de um tempo onde era orgulho mostrar que era funcionário público, e não sinônimo de vergonha e salário atrasado…
Sou de um tempo onde vivíamos sim muitas dificuldades, mas não tantas atrocidades…
Sou de um tempo onde o morro descia para o asfalto para trabalhar, e não o asfalto subia o morro para dar trabalho!