Sexta-feira o Rubinho ia pra pista matar.
Era certo, alguém ia morrer na sexta. Reza a lenda que ele havia feito promessa pro santo, que pra se manter vivo naquela vida de matador, sexta era dia de derramar sangue.
Baixada Fluminense, anos 90.
Teste 3
Nunca entendi muito bem qual era a dele. Só o vi uma vez, com a garrafa de cerveja em cima do seu Monza tubarão enquanto conversava com uma rapaziada na esquina. A cena era clássica: futebol rolando no campinho de sangue e areia, o sol se pondo, os negão na porta do bar rindo alto e uma turma arranhando um samba nas mesas lá pro fundo da birosca.
Diziam que o Rubinho era policial reformado. Outros diziam que ele tava na ativa. Só sei que naquela área só tinha Monza tubarão quem tinha grana. Depois veio o Vectra e o ômega que até hoje são rolé rebaixados de vidro escuro fazendo a limpa no bairro.
Nunca entendi direito se o Rubinho matava por prazer, por contrato ou pra manter a segurança no bairro. Só sei que, por via das dúvidas, o futebolzinho de rua na sexta não ia até muito tarde. A gente chutava aquela bola de borracha meio cabreiro quando passava carro – especialmente quando passava devagar. Nenhum dos meninos tava devendo mas minha mãe sempre falava: “morro de medo de confundirem um de vocês”.
Na real, a galera na Baixada nem conhecia droga. Só depois de velho fui sentir algum cheiro de erva, já de rolé no Centro. O corre dos coroas era ser pedreiro, construir casa, fazer churrasco no domingo, virar laje… Até existia a turma que apertava um, mas era raro. E era sempre um pessoal na casa dos 30 anos pra cima, que tava de saco cheio da semana de trabalho e só queria relaxar.
Até porque a gente sempre ouvia história de muleque que era morto porque tava com maconha.
Devia ser o Rubinho.
Sextou.