Solta o som que o Samuel B-Boy Shairspin está na área!

Foto: Renato Moura

Dos palcos do Alemão para o mundo, conheçam o irmão Samuel mais a fundo

Ele pode ser considerado sem medo, não só como um dos melhores dançarinos do Conjunto de Favelas do Complexo do Alemão, mas também do Rio de Janeiro. Com apenas 21 anos, Samuel Gomez dos Santos Lima o Samuel B-Boy Shairspin já coleciona vários prêmios nacionais e internacionais no currículo.

Criado na década de 70 no Bronx, em Nova Iorque, o Breaking é um dos passos mais marcantes no Hip Hop, e inclui cerca de quatro movimentos utilizando as mãos e os pés sincronizados com o peso do corpo, realizando algumas acrobacias. Foram alguns desses movimentos que aos 13 anos, Samuel conheceu ao assistir uma apresentação do professor de dança João Paulo JP Black em um baile.

Antes mesmo de começar as aulas, na quadra da Vila Olímpica da Grota, Shairspin já ensaiava alguns passos de dança conhecida como Passinho, em reuniões com um grupo de amigos. Além de funk, ensaios e apresentações de Quadrilha eram promovidas pela equipe.

Teste 3

A primeira apresentação profissional aconteceu em uma das comunidades do Complexo do Alemão, na quadra da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, localizada no Morro da Baiana. Apesar de ter sido remunerado por praticar uma atividade que faz por prazer, o dançarino confessa que esse não era o seu objetivo. “Comecei a ganhar dinheiro a partir dessa apresentação, mas para falar a verdade, eu só queria dançar, na época não me importava muito de estar recebendo ou não, só queria um espaço para dançar mesmo. Minha intenção nunca foi ganhar dinheiro com a dança”.

Foto: Renato Moura
Foto: Renato Moura

Foi aos 16 anos que a carreira de Samuel começou a se destacar ao ser convidado para entrar no “GRN – Grupo de Rua”, sob o comando de Bruno Beltrão. A companhia foi considerada por quatro vezes a melhor do mundo. “Na época, fui convidado para fazer a audição e entrei. Estava ganhando alguns eventos fora do Rio e os responsáveis pela companhia começaram a ver meu trabalho e me chamaram para fazer parte do grupo”. A GRN é uma companhia de dança de Niterói e os ensaios acontecem 3 vezes por semana, mas tem época que chega a ser diária e Samuel tem que sair do Alemão e atravessar a ponte todos os dias.

França, Inglaterra, Estados Unidos, Japão, Holanda, Itália, Argentina, Chile, Venezuela e Paraguai. Esses são alguns dos países que Samuel B-Boy Shairspin se apresentou, chegando a ser juri de alguns eventos. Além de conhecer vários lugares do mundo e novas culturas, a dança proporcionou várias conquistas na vida do B-Boy, como concluir os estudos. “Se não fosse pela dança eu não teria terminado meus estudos. Eu já estava parando, pensando em desistir e quando entrei na companhia, uma das exigências era que eu continuasse estudando”.

“Fomos convidados para um festival chamado Word Boy Classic, em Londres e ficamos em segundo lugar. Foi uma alegria tão grande, por que para a gente daqui perder na final já é uma alegria.” O Euro Beur Brasil, em Brasília e o campeonato de dança promovido pela Red Bull, no Rio de janeiro, são considerado um dos melhores evento do mundo e Samuel se orgulha em ter participado.”

Os brasileiros são mais calorosos e o jovem diz que sente a diferença sempre que se apresenta em outros países. “Eu gosto muito mais de dançar lá do que no Brasil, quando a gente dança aqui a galera não respeita tanto. Lá fora já é diferente, só pelo fato de estarmos mostrando nossa cultura a gente ganha o respeito. Aqui só tem respeito quem ganha evento grande, fora isso é considerado um nada.”

Samuel tem como objetivo montar uma equipe de dança e viajar com sua dança apresentando a cultura brasileira. “A ideia é montar uma companhia, ter meus alunos, viajar e mostrar a nossa cultura lá fora. Minha meta é conseguir representar bem o Brasil com a dança.”- Comenta.

Cerca de oito anos após iniciar a vida na dança, Samuel dá aulas nos projetos que seu primeiro professor, JP, organiza. “O JP coloca a gente como professor, acho a galera bem tranquila, apesar de serem um pouco bagunceiros. Quando a gente fala sério eles entendem. No início da aula já temos uma conversa e como a maioria é criança, chegamos com um palavreado diferente, sem muita cobrança, tentando passar o máximo possível a ideia de diversão, tudo com muito respeito.” Além das aulas, o B-Boy trabalha no setor de telecomunicações como técnico de rede na empresa de sua família e após viver uma temporada em Paris, hoje em dia mora com o irmão em um Condomínio na Estrada do Itararé.

Foto: Renato Moura
Foto: Renato Moura

Samuel B-Boy Shairspin pede para deixar um recado aos jovens que se interessam pela dança: “Eu quero dar uma ideia para o pessoas daqui do Brasil. Seria interessante se os dançarinos se esquecessem um pouco do pessoal lá de fora. A capoeira, o samba, isso é bonito e muito bem recebido lá fora. Isso se destaca. os caras daqui não querem treinar do jeito que os brasileiros deveriam, querem copiar os americanos e esquecem que dentro do país e dentro da comunidade que vivem, tem coisas muito ricas. Acredito que na cultura Hip Hop esse seja a solução para que a dança se destaque mais.”

Compartilhe este post com seus amigos

Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram
WhatsApp

EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

Contato:
[email protected]