Favela na Agenda de Direitos Sociais e Ambientais

O Rio de Janeiro nunca esteve tão cheio de bicletas como nesses dias, em que se discute acordo climático e futuro do planeta. É possível até prever as famílias em torno da mesa do jantar conversando sobre não jogar lixo no chão, andar menos de carro, eliminar os plásticos do lar, separar os lixos, etês.
Parece até aqueles comerciais de margarida, no qual todo mundo vive no fantástico mundo de bob.  Enquanto esses pequenos impasses reinam no senso comum,  questões primordiais dentro do país são descartadas da pauta de debate. Quais questões seriam essas? Moradia, desigualdade social e de direitos. E que isso tem haver com sustentabilidade?
Moradia tem tudo haver, por quê? O que acontece é que temos um crescimento populacional no Brasil, que não se sustenta em direitos, em vez disso se alimenta na desigualdade de renda, moradia e de todos os serviços previstos na constituição.
E onde será que essas pessoas de baixa renda moram? A maiora em favelas e periferias do país. No caso do Rio de Janeiro essa periferia divide espaço com a minoria rica do país, que abre sua gigantesca janela e dá de cara com a favela com suas casinhas crescendo sempre para o alto.
A primeira vista parece tudo em seu lugar, uma cidade unida onde ricos e pobres dividem o mesmo calçadão. Era para ser assim, mas por que não? O que na verdade existe é um Estado partido em direitos e serviços, que contemplam apenas a minoria.  Coleta de lixo diária existe apenas em uma pequena parte da cidade. Coleta seletiva então? Nem se fala… E o saneamento básico, a educação ambietal? Esse tem passado bem longe da favela, a não ser pelos movimentos sociais que se encarregam de fazer os deveres de casa que o estado se recusa.
E agora para variar ainda tem essa história de remoção. Além de direitos partidos ainda querem partir a cidade de vez. Removendo os pobres para bem longe do centro. Tudo em nome da modernização, obras da copa do mundo, olimpíadas e o escambal. A desculpa é sempre a mesma: risco, perigo… Mas a verdade, que nínguem cala é a especularização imobiliária, que cresce cada dia mais esgolindo todo mundo.
A discussão de moradia não é pauta no Rio+ 20, mas é pauta na Cúpula do Povos. E é pauta do debate promovido no Complexo da Maré dia 16 e no Complexo do Alemão dia 19, “A Favela na Agenda do Direitos Sociais e Ambientais” acontece esse final de semana na Maré na terça-feira no Alemão,  promovido pelo Observatório de Favelas e parceiros.
Entre os temas debatidos está o DIREITO A CIDADE como eixo principal. Como falar de sustentabilidade num país, em que a maioria da população vive sem estrutura, respeito e dignidade do governo? O que existe na Cidade, que sedia essa grande conferência é um racisco ambiental, que joga a maioria pobre e negra para as periferias, onde ocorrem os maiores impactos ambientais. E que afasta cada vez mais a população trabalhadora de seus espaços de direitos, dos seus lugares de raízes.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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