Flup 2022: Primeira edição do Slam BR no Rio acontece na Maré; 12 poetas foram classificados para as semifinais

Evento acontece no Centro de Artes da Maré e temas como racismo, capacitismo, transfobia e violência à mulher foram abordados nas performances dos slammers
Tawane Theodoro, uma das 12 semifinalistas Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Tawane Theodoro, uma das 12 semifinalistas Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

A classificatória para as semifinais do Slam BR (Campeonato Brasileiro de Poesia Falada) aconteceu nas noites de terça (6) e quarta (7), no Centro de Artes da Maré, no Complexo da Maré, na 12ª edição da Flup, que celebra os 100 anos do Modernismo Negro. Foram 25 poetas divididos em quatro grupos; dois no dia 6 e dois no dia 7. Do total, 12 poetas foram selecionados para as semifinais. Temas como racismo, capacitismo, transfobia e violência à mulher foram abordados nas performances. As semifinais acontecem nesta quinta-feira (8) e a grande final da competição nacional nesta sexta-feira (9), no mesmo local.

Os slammers semifinalistas são: Virginia (CE), Tawane Theodoro (SP), PS Raio Negro (RJ), Apêagá (SP/CE), JP ESCREVIVENTE (MG), Bê Machado (RS), M4TR1ARC-AK (SP), Trava da Fronteira (PR), Igor Braz (MG), Malokeko (SP), Cotta! (RJ) e Filipin da Ganância (ES).

Pela primeira vez, o campeonato saiu de São Paulo e acontece no Rio de Janeiro. O Slam tomou a proporção de nível nacional através de Roberta Estrela D’Alva, Luaa Gabanini, Claudia Schapira e Eugenio Lima, do Grupo Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, que produziram o evento junto à equipe da Flup.

Teste 3

“A ideia de deslocar de São Paulo para outros estados sempre foi uma vontade, desde o primeiro ano. Mas, daí, o Slam BR foi se fortalecendo. A gente sempre acalentando essa ideia e aí a Flup possibilitou. Descentralizar e peregrinar”, reforçou Claudia Schapira, uma das diretoras e idealizadoras do Slam BR. 

Claudia Schapira
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Fernanda Amancio, mais conhecida como Preta Poética, poeta, produtora e coordenadora do Rede Slam, e Sabrina Azevedo, poeta e produtora do Slam RJ, estavam presentes no evento e reforçaram a importância de, após dois anos de pandemia, as competições de poesia falada estarem revivendo. Dois meses antes, elas produziram o Campeonato Estadual de Slam na Fundação Darcy Vargas, na Gamboa, Centro do Rio. 

“Slam BR no Rio de Janeiro está sendo um sonho. Os poetas de fora tão aqui. O pessoal de vários estados estão aqui e eles tão conhecendo a nossa cena com mais proximidade. E isso tá sendo muito importante, não somente pra gente, mas para o pessoal da Maré também. Está acontecendo arte na Maré!”, disse a Preta Poética, que também é coordenadora do Rede de Slams RJ.

Preta Poética e Sabrina Azevedo, produtoras do Slam RJ
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

“Esse foi o primeiro ano que o Slam BR saiu de São Paulo e isso é muito importante pra gente, pra nossa cena que precisa disso também. Eu já participei duas vezes como competidora. Hoje eu sou organizadora do Slam RJ, mas a importância do Slam BR é além de uma competição. O Slam muda vidas; as conexões que você faz, você conhece gente braba igual você de outro estado, isso ajuda a quebrar muitas coisas. Eu aprendi muito sobre a questão de xenofobia, por exemplo”, comentou Sabrina

O Voz esteve presente no primeiro dia das classificatórias e entrevistou os primeiros três semifinalistas, confira abaixo:

Da esquerda para a direita: Tawane Theodoro, Virgínia e PS Raio Negro
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Virgínia

Virgínia, moradora de Sobral, no sertão do Ceará, é estudante de arquitetura, além de poeta. Ela conta que é a primeira vez que está no Rio de Janeiro. “Eu conheço a cidade pelos meus estudos mas é muito diferente de você conhecer o que você tá estudando e você do nada tá ali olhando esses prédios, essas ruas, essas vias… E acho que a coisa que mais me encantou no Rio atualmente não foram os prédios, a orla, a praia, mas as pessoas e principalmente a periferia”, disse, acrescentando que lhe partiu o coração ver, com seu olhar atento, um muro separando a favela do resto da cidade. 

Virginia recitando sua poesia no palco da Flup
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Sobre suas poesias, ela pontua que escreve o que lhe doi. “Minhas poesias partem de inúmeros lugares diferentes. E decorar é difícil porque eu não gosto de ler elas. Escrevo no momento que estão me doendo. Isso aqui está me doendo e eu estou escrevendo isso aqui”, confessa. 

“É mais do que só uma disputa poética, é um ato político. Minha poesia não tá feita, não é feita pra ser bonita, a minha poesia ela é feita pra que você entenda. Violências sexual e física contra pessoas com deficiência acontecem o tempo todo, principalmente a moral. Não é exagero, é literalmente. O meu corpo sofreu tortura física, tortura, aquelas torturas de ditadura militar; de ter os nervos puxados a força, a sangue frio, esse tipo de tortura que eu tô falando. E aí puxados a força, sangue frio, esse tipo de tortura que eu tô falando”, desabafou Virgínia. Ela reforçou que as pessoas precisam saber disso e que precisa ser uma discussão não só de pessoas com deficiência. 

Tawane Theodoro

Tawane é do Capão Redondo, Zona Sul da cidade de São Paulo e, além de slammer, é escritora e ativista social. Sobre estar em um campeonato de Slam no Rio pela primeira vez, ela conta que o sentimento é muito bom. “Primeiro, que é a primeira vez que o Slam BR sai de São Paulo, né? O principal é a troca. É muito gostoso ver rostos conhecidos do Brasil inteiro. Então, essa troca, de chegar aqui, conhecer todo mundo, reencontrar… É muito lindo!”, contou a semifinalista, que confessou estar nervosa e que é um presente chegar na semifinal.

“Eu acho que isso é que dá o gás, sabe? Eu gosto muito do Slam por isso. O Slam ele vai te dando gás no meio da poesia. Você vai falando, o pessoal vai vibrando junto, vai vindo junto e é isso que dá o gás pra continuar. Então dá pra sentir. Acho que quando eu tô forte em cima do palco é porque eu tô sentindo essa troca com o público”, finalizou. 

PS Raio Negro

Paulo Salvador Raio Negro nasceu em Saquarema, Região dos Lagos do Rio, mas atualmente mora em Cordovil, Zona Norte. Já passou por várias áreas e se considera nômade, porque “ao mesmo tempo que eu não sou cria de lugar nenhum, eu me crio em todo lugar que passo”, ressalta. Prestando vestibular para o curso de Letras, ele também tem como paixões Sociologia e Filosofia, em que gosta de estudar sobre necropolítica nos escritos do camaronês Joseph-Achille Mbembe. 

PS Raio Negro recitando sua poesia no palco da Flup
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

“Ouvindo o meu último poema, dá pra perceber que eu tenho muito uma pegada a ser voltada pra questão filosófica e de ciências sociais. E é uma parada que eu gosto muito, eu amo muito!”, diz. 

Raio Negro ressalta que, no Slam, nem sempre você fala fala exatamente o que quer dizer, mas às vezes fala o que sabe que vai te fazer chegar em determinados lugares. “E aí o mais gostoso hoje pra mim foi isso que o poema que eu mais queria fazer, que era o que eu mais tinha a falar e muito mais a minha essência. Foi o poema que as pessoas mais receberam bem e eu estou maravilhado com isso!”, disse, entusiasmado. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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