Rock in Rio: Banda Affront leva o thrash metal para o Palco Favela no mesmo dia de Iron Maiden

Guitarras pesadas e gritos de protesto contra desigualdades são marcas registradas da banda que já é sucesso mundial e se apresenta no primeiro dia do festival
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

O Rio de Janeiro, de sua forma mais popular, é conhecido pela sua diversidade cultural. Mas em um imaginário coletivo, associam a cultura carioca de forma direta ao samba ou ao funk, mas não imaginam que a produção aqui explora cada pedaço dentro de um conjunto musical. O thrash metal é um movimento gigante no Brasil e o público é extremamente fiel às bandas do rock pesado. Inaugurando o palco Favela no primeiro dia de Rock in Rio, a banda Affront, do Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, traz não só mensagens de protesto, mas também muito som para o público do evento.

O Metal que Afronta

O nome Affront vem da palavra afronta, justamente como ação de protesto contra discursos de ódio e chagas que atingem a sociedade. É isso que explica Marcelo Mictian, que é vocalista e baixista do conjunto. “A banda surgiu em 2016, inspirada nas manifestações que aconteceram em 2013. Eu sou politicamente muito ativo e tinha muitos amigos que integravam o Black Bloc, que era uma galera que a gente saía e falava que iríamos afrontar o sistema, afrontar os fascistas e assim por diante. Então, a gente sempre conversava sobre afrontar. Foi quando eu tive a ideia de montar a banda. Cheguei pra eles e falei ‘cara, eu estou montando uma banda e eu vou botar o nome de Afront’”, conta Marcelo. Ele diz que, inicialmente, a banda teria o nome em português mesmo (Afronte), mas na época a esposa do cantor falou sobre atingir o mercado internacional e deu a ideia de mudar para Affront.

A banda já trocou algumas vezes de integrantes, mas atualmente, além de Marcelo, integram o grupo os guitarristas Rafael Rassan e Thiago Perdurabo e o baterista, Rafael Lobato. Juntos, eles levaram o nome da Affront para muito longe, não só fazendo da banda uma uma referência no Brasil e nas Américas, como também cruzou o Oceano Atlântico, atingindo a Europa e chegando até mesmo no Japão.

Da esquerda para direita, Thiago Perdurabo, Rafael Lobato, Marcelo Mictian e Rafael Rassan. A Affront se apresenta no primeiro dia de festival. (Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades)

Teste 3

No mesmo ano que foi criada, Affront também já teve o seu primeiro disco lançado. Marcelo chamou Rafael Rassan para produzirem o primeiro disco. Assim, nascia “Angry Voices”, que foi lançado por uma gravadora da região sul do país. Até 2019, a banda fez vários shows, tanto no Complexo da Maré como também fora do Rio de Janeiro. Inclusive dividindo palco com Sepultura e Ratos de Porão. Foi nesse ano que veio o segundo álbum, “World in Collapse”. Na sequencia, a banda já conseguiu lançar o seu trabalho na Europa. Uma gravadora francesa publicou o primeiro álbum da banda no velho continente, além de lançar o segundo tanto lá quanto aqui no Brasil. Com o sucesso, a banda Affront começou a fazer shows pelo Brasil inteiro, indo a São Paulo. “Agora estamos nos preparando para lançar o nosso novo disco, Freak Show, que vai sair logo depois do Rock in Rio.”

As inspirações de uma banda de thrash metal

Perguntados sobre as inspirações da banda Affront, quem responde é Rafael Rassan. “Nós sempre acreditamos muito que o rock tinha que ser vigoroso, tinha que ser rápido e tinha que ter uma atitude. E naquele momento do Angry Voices, em 2016, nós acreditávamos muito ainda no no trash metal brasileiro.” Eles citam Sepultura como exemplo brasileiro e relembram que muitas influências vem de bandas alemãs e americanas. Ainda assim, Affront não deixa de abordar suas raízes e traz uma característica especial para as músicas. “Olhamos muito para a multiculturalidade que existe no Brasil e sempre fazemos questão de trazer elementos da música brasileira para perto das nossas composições. Então, tanto no Angry Voices quanto World in Collapse e até em Freak Show que será lançadado, estes elementos estiveram e estarão presentes. E pontuamos que trash metal sempre esteve presente por conta da nossa grande influência pelo Sepultura”, responde Rafael Rassan.

A inserção de elementos musicais do regionalismo brasileiro vem também das terras natais dos integrantes da banda, de suas raízes. Pois, a mãe de Marcelo vem do nordeste e chegou ao Rio de Janeiro na década de 50. O baterista Rafael Lobato é do Maranhão e mora na capital carioca há mais de 20 anos. Rassan é de Alegrete, interior do Rio Grande do Sul. “A gente ouve muito a música brasileira. Chico César, Alceu Valença, Luiz Gonzaga, Zé Ramalho, Fagner, enfim. São nomes que nos influenciam também que a gente gosta muito de ouvir”, conclui. Marcelo que aborda como esses ritmos harmonizam com os elementos que cada um traz para a banda.

Banda tem influências de cantores brasileiros regionais.
(Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades)

No Rock in Rio, Affront tocará no primeiro dia do evento, 2 de setembro. E sobre o convite, Marcelo fala sobre a importância do festival e do quanto os artistas querem ocupar aquele espaço. “Eu sempre falo. Se você pegar vinte artistas de quaisquer estilos e perguntar pra eles se eles querem quer tocar no Rock in Rio… Dos vinte, vinte e cinco vão falar que querem. Então, acho que não é diferente com a gente. A gente já foi em Rock in Rio, vimos bandas que gostamos. Somos fã no Rock in Rio sim e sempre fica aquela coisa na cabeça e no coração que um dia estaremos ali. E quando a gente foi convidado, não foi diferente. Foi uma alegria muito legal. Liguei pro Tiago, pro Lobato falei ‘Cara! A gente foi convidado a tocar no Rock in Rio!!’ e ficou todo mundo louco”, pontua Marcelo. Rassan complementa a entrevista. “Sem dúvida é um momento ímpar. Não tem como negar isso. A gente está muito feliz com a oportunidade.” E, ao final da entrevista, complementando o colega, Marcelo conclui. “É igual a minha esposa fala ‘Eu sei que você quer muito mais que isso.’ Nós estamos aqui, mas nós já estamos pensando no próximo passo.”

Texto: Rafael Costa
Fotos: Vilma Ribeiro
Produção: Gustavo Eduardo
Revisão: Jonas Di Andrade

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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