Famílias retiradas de comunidade no Alemão esperam moradia prometida há quase 5 anos

“Só queremos o prometido!”

As centenas de famílias que foram retiradas da comunidade conhecida como “Favelinha da Skol” pedem que as obras do programa “Minha casa, Minha vida” sejam iniciadas com urgência e acusam o governo de abandono. O terreno prometido fica em frente à Escola Municipal Rubens Berardo e se tornou depósito de lixo, atraindo ratos e insetos. Caminhões de carga depositam entulhos frequentemente no local. Há quase cinco anos, os moradores estão recebendo o “Aluguel Social” e dizem que o prazo de um ano para realocação não foi cumprido.

Indignados com esta situação, moradores se reuniram no terreno onde eram suas casa. - Foto: Betinho Casas Novas
Indignados com esta situação, moradores se reuniram no terreno onde eram suas casa. – Foto: Betinho Casas Novas

Em agosto de 2012, durante entrevista para o jornal Extra, o secretário estadual de obras, Hudson Braga, disse que os residentes em áreas de risco seriam prioridade como parte do programa “Morar Seguro” e que as primeiras famílias beneficiadas seriam as cerca de 480 que viviam de maneira precária nos galpões da anga fábrica da Skol.

Na época, de acordo com o governo do estado, as moradias seriam construídas no próprio terreno e durante as obras, as famílias receberiam o aluguel social. Os galpões foram demolidos e a ideia era construir cerca de 400 moradias.

Teste 3

Apesar de todas as promessas, a realidade é outra. Hoje em dia, todas as famílias retiradas do terreno da comunidade conhecida como “Favelinha da Skol” recebem o aluguel social e ainda não conseguiram a chave do apartamento que tanto almejam. A maioria precisa completar o valor do aluguel e diz que com R$400,00 (valor do benefício) não aluga casa em lugar nenhum.

“Pago R$650,00 de aluguel e tenho que rar a diferença do meu bolso. Esse valor faz uma falta enorme na minha vida. Um processo não pode atrapalhar o outro. A situação aqui era muito dicil, mas só o fato de não ter que pagar aluguel já era um adianto. Com o dinheiro que gasto hoje, poderia comprar algumas coisas para minhas filhas”, comenta a back office Camila Santos, atualmente moradora da comunidade conhecida como Reservatório.

“Não somos contra a universidade, mas estamos há quase 5 anos lutando, agora chegam e tiram a atenção que a gente nunca teve para dar preferência? Não queremos sair do Alemão. Eles não podem jogar a gente em qualquer lugar. Somos contra a construção aqui no terreno da Skol”, reivindica Regina Dantas, ex- moradora da comunidade, que tomou a frente da causa.

“Tenho fotos e vários papéis que mostram a promessa do Pezão e de representantes da EMOP. Nos documentos eles dizem que ficaríamos no mesmo local. Deram a garantia. A Skol ficou 12 anos invadida, tenho uma filha que chegou lá com 9 meses e hoje ela tem 13 anos”, completa.

O terreno tem um acúmulo muito grande de entulhos e lixos, jogados por caminhões que vem de fora. - Foto: Betinho Casas Novas
O terreno tem um acúmulo muito grande de entulhos e lixos, jogados por caminhões que vem de fora. – Foto: Betinho Casas Novas

Em julho de 2009 foram retiradas aproximadamente 60 famílias do local e em setembro de 2010, saiu o restante. No próximo semestre serão completados cinco anos que as primeiras famílias foram retiradas e o medo de perder o Aluguel Social faz parte da rotina. De acordo com os ex-moradores, nenhuma posição foi dada até o momento sobre o benefício e estão com medo do programa ser cancelado.

“Essas famílias que saíram em 2009 estão recebendo o Aluguel Social há quase cinco anos e até hoje ninguém veio falar com a gente sobre reajuste. Todo ano o meu aluguel aumenta. Durante todos esse tempo não é possível que não tiveram dinheiro para construir nossos apartamentos. É só fazer as contas de quanto já gastaram de Aluguel Social”, diz um morador.

Os moradores dizem que o governador Pezão, que na época era vice, afirmou que em no máximo um ano, todos seriam realocados. “Tiraram a gente daqui e prometeram que em até um ano os apartamentos iriam estar prontos e voltaríamos para cá. Mas olha ai como está hoje depois de quatro anos. Tiraram a gente daqui para jogar lixo. O Pezão fez essa promessa para a gente. Nós queremos esse terreno. Minha neta estuda aqui, minha família trabalha aqui. Não tem cabimento termos que sair da comunidade que moramos a vida toda”, reclama Sueli Gonzaga da Silva, de 55 anos, aposentada por invalidez.

Durante uma audiência pública com a Comissão de Direitos Humanos da ALERJ, na Nova Brasília, o subprefeito da Zona Norte, Roberto Horta Salles, informou que as obras estão previstas para começar em agosto e marcou uma reunião com ex- moradores do terreno com representantes da EMOP (Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro) para esclarecer dúvidas. Em nota, a assessoria de comunicação da EMOP informou que houve um chamamento público, sendo vencedora a Empresa Bairro Novo, que está aprovando o projeto para iniciar a construção.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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